Síntese de indicadores Sócias do IBGE

A divulgação da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE reacendeu a discussão sobre a pobreza no Brasil pós pandemia.


Nesse fio, não pretendo falar do Brasil. Desejo me concentrar nos resultados para o estado de Goiás, indo um pouco além do que foi divulgado. Segue aí. 
Chama atenção a demora do IBGE em divulgar os resultados. Os dados que dão suporte a Síntese foram disponibilizados em 11/05/2023. Só agora divulgaram os indicadores.

O Instituto Mauro Borges divulgou uma analise similar a do IBGE ainda em maio:

Em resumo, Goiás apresentou a quarta menor extrema pobreza do país, 2,7%, com o menor resultado desde 2015. E ainda registrou a 2° maior redução na pobreza entre os 27 estados da federação, 27,8%, no comparativo de 2021 com 2022.Image
Contudo, apesar da relevância desses números é preciso ir além. O combate a pobreza requer ações conectadas que não são restritas apenas às secretarias de ação social.

Para entender isso, é preciso discutir um pouco o mecanismo de persistência da pobreza. 
De forma conceitual, uma das principais teorias de justiça no diz que o resultado econômico de um indivíduo é fruto da soma de dois fatores:

Circunstâncias: como status econômico da família de uma criança;

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Esforço: como a dedicação ao estudo. 
Logo, o combate à pobreza deve buscar a minoração dos efeitos desfavoráveis das circunstâncias e, ao mesmo tempo, estimular o esforço via políticas educacionais e interação com o mercado de trabalho formal. 
Mas para entender isso, é preciso mensurar os efeitos das circunstâncias nos resultados individuais em Goiás.

O estudo de "Britto et al 2022: Intergenerational Mobility in the Land of Inequality, Bocconi University", constrói a matriz de transição brasileira. 
A matriz de transição mostra o quanto a renda do pai interfere na renda do filho. Vejam a primeira coluna da matriz. Os filhos de pais pobres tem uma probabilidade de 46% de continuarem sendo pobres. Eles tem apenas 2,5% de chances de atingirem o topo da distribuição.Image
É o famoso "tal pai, tal filho" que eu mesmo estudei junto com o professor Lauro Nogueira, neste artigo:

A pergunta que segue é como esse indicador se comporta entre as regiões brasileiras. O mapa abaixo ilustra isso. Ele demonstra as localidades nas quais as crianças que nascem em lares pobres tem maior chance de ascender socialmente. Tons verdes escuros denotam maior mobilidadeImage
Observamos que Goiás possui um bom desempenho no indicador, mas com alguns importantes desafios, em particular, no Nordeste Goiano. A Figura também esta presente no artigo do Britto et al 2022, e possui informações valiosas sobre o resto do país, mas que não explorarei aqui. 
Outra informação valiosa é a do indicador de mobilidade por cidades. Goiânia possui a 8° menor persistência da desigualdade entre 50 municípios analisados. Novamente um indicador positivo para Goiás.

O texto do Britto pode ser acessado aqui:
docs.iza.org/dp15611.pdf
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Feita a mensuração, surge uma segunda pergunta: quais são as políticas públicas mais efetivas para a quebra do ciclo intergeracional da pobreza? Estimativas indicam que, no Brasil, essa políticas são:
Educação;
Infraestrutura;
Estrutura econômica;
Segurança pública.
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É curioso observar políticas de infraestrutura e segurança nesse hall. Mas a lógica é simples: um trabalhador que pode usar um transporte público eficiente e seguro para se locomover, terá uma maior produtividade e estabilidade no emprego. 
Os pais que deixam seus filhos em uma escola pública segura, tem maior chances de prosperar em suas atividades. Segurança e infraestrutura barateiam os custos de produzir e empreender. Os resultados são mais emprego, mais renda e maior inclusão social. 
Aqui peço licença para falar de segurança pública no estado de Goiás.Image
Como já mencionado, o gasto em segurança pública, tem a capacidade de reduzir os custos sociais e privados, melhorando a qualidade de vida e o ambiente de negócios.

A redução da violência constitui um dos elos da política de inclusão social. 
A insistência nesses temas tem um propósito: demonstrar que a política social não se dá exclusivamente na secretaria responsável pela pasta. Ela é a junção de políticas diversas que impactam em maior ou menor grau no bom estar da população mais pobre. 
Em Goiás nós temos o diagnóstico correto e buscamos maximizar o efeito social de cada política. Por trás do recuo de cada indicador de pobreza e desigualdade há um largo espectro de ações coordenadas dentro e fora do Gabinete de Políticas Sociais. 
Referências:

Desigualdade de oportunidades no Brasil (Figueiredo e Ziegelmann):

Desigualdade de oportunidades na educação (Figueiredo, Nogueira e Santana): tandfonline.com/doi/abs/10.108… 

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