Amor e desejo: o grande problema em confundir tais conceitos...



 Não raro vemos crianças olharem brinquedos e dizerem que são tudo o que “desejam”; os pais, não conseguindo doar-se em presença; compram os presentes, substituem a companhia, única capaz de nutrir emocional e psiquicamente seus filhos, por objetos.

O resultado é os filhos brincam na primeira semana e, na seguinte, os presentem já se juntam a outros tantos num enorme baú de sonhos e frustrações - o amor vai sendo substituído pelo consumo e o vazio vai tomando conta do coração dos pequenos. Nunca vimos tantos casos de depressão na infância e os danos psicológicos pelo uso abusivo do ambiente digital, das redes sociais e das relações fakes, de curtidas e comentários de estranhos.

Muitos casais, após longos anos de história, belas parcerias e cumplicidade, deixam de sentir “desejo” por seus parceiros e, por confundirem desejo e amor, colocam um prematuro fim às relações – não percebem, talvez por imaturidade, que o tempo e a rotina são capazes de reduzi-lo, o que não significa, necessariamente, a morte do amor.

Meu pai, enquanto vivo, dizia-me, filha, case-se com um homem que você admire, aquele como quem você se veja de mãos dadas, bem velhinhos, conversando sobre a vida, sobre os sonhos e partilhando da felicidade do eterno descobrir...

Com o tempo, a paixão, verdadeira sensação química, hormonal – vai cedendo espaço ao amor – se e quando há respeito, admiração e cumplicidade entre o casal.

O amor vai assumindo várias formas, não se resume a sexo e não se esgota nele: o caminhar de mãos dadas, ver o sol nascer, uma conversa íntima; a certeza de poder contar com o outro em momentos de sofrimento e dor; a parceria; o fazer juntos – refeições, filmes, viagens, a educação dos filhos, projetos de vida.

Por outro lado, não existe amor se não houver admiração, respeito e troca proporcional (Bert Hellinger) – nenhuma relação sobrevive (e nem deve) se apenas um se doa, compreende, perdoa, cuida, promove os acontecimentos relativos ao casal. Com o tempo, se a relação não significar troca, tenderá ao fracasso.

O amor dos pais é um dos poucos incondicionais; eles nos amam e não querem absolutamente nada em troca, salvo o intenso e forte desejo de que sejamos felizes, ou seja, a troca que pretendem reverte em nosso próprio favor.

Entre um casal o amor é condicionado mesmo – se entregamos amor, queremos receber amor; se respeitamos, queremos ser respeitados; quem faz um carinho irá adorar receber também. Em outras palavras, é como navegar um barquinho em que apenas um rema; o que descansa, tornar-se-á um peso, vai passar a incomodar.

Não irei mencionar relações em que há infidelidade, desrespeito, grosserias, gritos ou qualquer outra forma de violência – não chamo tais uniões de relações, pode ser dependência emocional, interesse físico ou financeiro, onde não há respeito não há amor.

Em conclusão, eu desejo que todos os casais possam honrar e amar os seus parceiros, fazendo da união uma constante demonstração de afeto, parceria, doação, compreensão e aceitação das diferenças, uma das formas mais sagradas da demonstração da presença de Deus em nossas vidas e que, se algum dia findar o desejo, que possam lutar juntos e descobrir novas formas de amar, aprofundando suas relações.

Erika Rocha von sohsten

Pré candidata a vereadora de João Pessoa.


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