O marxismo é uma das formas mais perfeitas do tecnicismo político

 


Excerto de Gustavo Corção, extraído da obra: As fronteiras da técnica.


O marxismo é uma das formas mais perfeitas do tecnicismo político. E o stalinismo é a sua mais perfeita realização histórica. Logo no preâmbulo da doutrina o homem deixa de ser essencialmente racional e passa a ser essencialmente fabricante. A linha mestra da vida se desloca para a ordem do fazer. E na política, como era de esperar, o ato de governar passa a ser uma espécie de engenharia. Projeta-se na prancheta e épura da nova sociedade sem classes. Lá fora, nas ruas, nas casas, nos becos, nas escolas, nos jardins, está a matéria, o tijolo humano; cá dentro, nos gabinetes da nova política, estão os técnicos, os super técnicos, os politécnicos que calculam como logaritmos e desenham a nova forma que aquela massa inerte, potência dura, deve receber.


Na política normal, intrìsecamente ética, governar é dirigir a vida imanente da sociedade para um ideal concreto de maior perfeição sem contudo quebrar a exigência absoluta da continuidade moral, isto é, sem deixar de realizar em cada dia o bem comum distributivo, ético e hierárquico. Ao contrário, no tecnicismo político, que atribui ao Estado uma transcendência sobre a multidão, governar é mover a sociedade de fora, do alto da transcendência estatal, como o artista move a tinta ou a tecla.


Essa ideia de que o governo é técnica manifesta-se às vezes com um ingênuo grotesco. Aqui entre nós, onde o tecnicismo impregnado de ciência popular está em assustadora ascensão, foi há tempos saudado um novo prefeito com esse título esperançoso: é um técnico! E há mais tempo ainda, em 1945, o bravo Partido Comunista lançou um candidato à presidência da República usando, como principal recurso de propaganda, o seu título de engenheiro para a presidência da República.


Qual será, dessas especialidades, a mais indicada para o Catete? Se querem um artífice no leme do país, por que não escolhem um dentista? Eu poderia provar, sem grande dificuldade, que ao presidente da República interessam mais as bocas do que os túneis. Ou então quem sabe se não ser um otorrinolaringologista o nosso candidato?


Gustavo Corção, “As fronteiras da técnica”, pág. 106-107


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