Político (a) da direita ou da esquerda: a divisão é possível?

 



As origens das expressões "esquerda" e "direita", para denotar diferentes orientações políticas, têm raízes na Revolução Francesa do século XVIII. Durante esse período tumultuado, a Assembleia Nacional Constituinte de 1789 testemunhou uma divisão entre seus membros, refletindo as divergências ideológicas fundamentais entre eles.

Aqueles que ocupavam assentos à esquerda do presidente da assembleia eram frequentemente identificados com uma postura mais progressista e reformista; defendiam mudanças sociais significativas, como a promoção da igualdade econômica, bem como reformas políticas abrangentes. Eram pessoas provenientes da classe trabalhadora, intelectuais e ativistas sociais, buscavam uma ordem social mais equitativa.

Já os que se sentavam à direita do presidente eram associados a uma perspectiva mais conservadora e tradicional. Eles defendiam a manutenção das estruturas sociais e políticas estabelecidas, como a monarquia e a influência da igreja, resistindo a mudanças radicais. Composto principalmente por nobres, líderes religiosos e outros defensores do status quo, esse grupo buscava preservar a estabilidade social e política existentes.

Ao longo do tempo, essa divisão física na Assembleia Nacional Constituinte entre esquerda e direita tornou-se símbolo de divergências ideológicas mais amplas e, atualmente, a complexidade das questões ideológicas já não cabe em repartição tão simplória.

Ora, as questões políticas evoluem ao longo do tempo, acompanham a dinâmica da vida, abrangem uma ampla gama de preocupações, como questões ambientais, direitos individuais, identidade cultural e tecnologia. Essa diversidade de temas desafia as tradicionais divisões entre direita e esquerda, que podem não capturar totalmente as nuances das diferentes posições políticas em relação a tais questões.

Além disso, os partidos políticos estão adotando plataformas mais pragmáticas e flexíveis, resultando em uma mistura de pautas consideradas tradicionalmente de direita e de esquerda em uma única plataforma.

Outro fator importante é a globalização e a interconexão crescente entre as nações. Debates frequentemente moldados por dinâmicas globais, como o comércio internacional, a migração e a segurança, que podem transcender as distinções tradicionais entre direita e esquerda.

Por outro lado, ainda persistem algumas diferenças: a Direita defende políticas econômicas que promovem o livre mercado, como desregulamentação, redução de impostos e liberdade econômica individual; enquanto a esquerda tende a apoiar políticas econômicas que buscam reduzir as desigualdades de renda e promover a redistribuição de riqueza, como aumento dos impostos e maior intervenção do governo na economia; a direita trata de uma menor ingerência do governo no fornecimento de serviços sociais, defendendo políticas que enfatizam a responsabilidade individual e a caridade privada; a esquerda, posiciona-se em prol de um papel mais ativo do governo na provisão de serviços sociais, como saúde, educação e assistência social; a direita adota posições mais conservadoras em questões sociais, como casamento, aborto e religião, frequentemente apoiando políticas que refletem valores religiosos e culturais tradicionais; a esquerda abraça posições mais progressistas em questões sociais, como igualdade de gênero e direitos LGBTQ+. Quanto ao meio ambiente, a Direita defende a liberdade individual e a minimização da intervenção governamental na economia e a Esquerda apoia políticas mais rigorosas de proteção ambiental, como regulamentações ambientais mais fortes; a direita combate a ampliação das hipóteses de aborto e a esquerda, o oposto.

Note que são categorias muito complexas e se partirmos para a visão de cada político, em particular, as diferenças crescem ainda mais, sendo impossível delimitar as diferenças com precisão.

Identifico-me muito mais com as pautas da Direita Conservadora; contudo, no ponto em que toca ao meio ambiente, defendo políticas mais rigorosas de proteção ambiental; havendo, neste ponto, patente comunicação com as pautas defendidas pela esquerda. E, qual o problema nisso? Quão limitada intelectualmente eu seria se precisasse me fechar em termos conceituais, resumindo-me a definições herméticas e inúteis, inapta para entender a ciência do povo e abraçar a dinâmica, abrangência e complexidade da vida?

Combato o aborto, defendo que a vida começa com a concepção; defendo a menor ingerência do Estado na economia, penso que as pessoas devem ser livres para gerar riqueza e trabalhar; defendo uma menor carga tributária, a rigorosa proteção ao meio ambiente, incentivo a energias renováveis e ações para combater as mudanças climáticas e, por fim, defendo, veementemente, a nossa Lei Maior, a Constituição Federal de 1988, que não possui apenas quatro linhas, são, exatamente 250 artigos, inúmeros parágrafos, cerca de 308 páginas (varia muito, a depender da formatação), assim, se assumirmos que cada página tem, em média, 50 linhas, ela tem 15.400 linhas! E temos que defender todas elas, não apenas as que tratam das forças armadas (obs. Não há poder moderador no Brasil!)

Aliás, o conceito de "poder moderador" remonta ao período imperial brasileiro, quando o imperador tinha o poder de intervir nos outros poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) para manter o equilíbrio e a estabilidade do Estado. Entretanto, com a proclamação da República, em 1889, o sistema monárquico foi substituído por um sistema republicano e democrático, no qual não há um poder moderador oficial.

Em resumo, importa considerarmos que os seres humanos, a política e a vida, em sua complexidade nos direciona a pensar, como seres racionais que somos e assim nos diferenciamos dos outros animais selvagens; como seres pensantes, dotados de capacidade de linguagem complexa, raciocínio abstrato e simbólico, autoconsciência e reflexão.

Tais características devem nos inclinar à abertura para novas ideias, à possibilidade de enfrentamento de questões polêmicas, a capacidade de ouvir, inclusive quando o outro pensar de modo diferente (liberdade de expressão não é só ouvir o que gostamos de ouvir; é ter “cacife” para ouvir, inclusive e especialmente, quem discorda de nossas ideias e, ao fazê-lo, que seja com respeito e educação).

Em conclusão, é relevante registrar que o fato de uma pessoa ser filiada a um determinado partido político, não implica dizer que ela concorde com todos os integrantes deste partido – divergências e convergências são naturais da vida, cada ser humano é um mundo! Por mais que a afirmação pareça óbvia, é necessária, notadamente porque a divisão entre esquerda e direita tornou-se uma verdade guerra, de egos e de ódios; uma luta insana, nela, todos perdem. A cisão, aliás, é pensada estrategicamente: desunir para enfraquecer! Igualmente óbvio, não acham? E, quem ganha com isso? É quem já está no poder!

Apesar de ser da direita, coloco-me, na vida e perante o outro, sempre com muita humildade e respeito, aberta para ouvir qualquer pessoa, partido ou segmento (somos todos irmãos!) e, ao conversar com alguém, não me importa saber se é da esquerda, centro ou direita, mas, se é honesto (a)!

Como diria Carl Jung, “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Erika da Rocha

Pré-candidata à vereadora pelo Partido NOVO.